domingo, 24 de julho de 2011

AOS PAIS NOVOS E ANTIGOS!

Aos Pais Novos e Antigos

A PAIS NOVOS E ANTIGOS

Ter um filho, receber uma criança de poucos dias em casa, depois de meses de gestação é uma dádiva. Um filho ou filha é a própria magia da vida, um mistério que não nos será dado compreender com a razão.
Quando nasce uma criança, é um momento de alegria. Uma nova pessoa está ali, começando a vida. Parabéns, papai, parabéns mamãe!
Eu devia parar a mensagem aqui, pois já disse tudo o que precisava.
Há contudo histórias tristes que cercam o nascimento de uma criança com síndrome de Down, e essas histórias não têm nada a ver com a pequena criança que está ali, embrulhadinha em cueiros, mantas, indefesa e necessitando de atenção e peito, como qualquer outra criança.
Muitos pais e mães de crianças com síndrome de Down realmente vivem essa tristeza. A grande maioria deles vai acabar superando esse momento e vai amar seu filho ou filha. Em geral vai creditar a dificuldade em viver o momento à maneira como lhe deram a notícia e como pintaram o quadro da síndrome de Down. Em outras vezes, já escrevi sobre a hora da notícia*. E me perguntava se haveria uma maneira correta de dar qualquer notícia que consideraríamos ruim de qualquer maneira. E falava que era importante viver um dia após o outro. De preferência o dia de hoje. É muito para qualquer pai ou mãe com um nenezinho no colo ficar preocupados com o futuro autônomo de seus filhos na idade adulta. A pessoinha ali não está crescida ainda, ela precisa é de peito, de leite, de carinho, de ser acolhida nesse universo de pessoas humanas de que fazemos parte.
De tudo o que aprendi nesses tempos (a minha filha agora está com 9 anos), o mais importante é que o aprender se dá no convívio humano, na criação de vínculos entre as pessoas. Esses vínculos vão possibilitar que mães/pais e filhos estabeleçam formatos de ação conjunta que possibilitam à criança entrar no mundo da cultura humana: aprender a falar, pensar, ouvir, aprender nome das coisas, das cores, as letras, orientar-se no espaço, etc.
É só observar e ver como naturalmente interagem adultos e crianças: na brincadeira, a bola, manda a bola, a criança balbucia bó, o adulto entende "bola", dá um sentido ao seu balbucio, a criança compreende que "bó" tem um significado. Esse significado só surge porque houve a interação com o adulto, prazerosa, um vínculo entre as duas pessoas. O adulto é o "mediador" externo, ajuda a criança a trabalhar com o significado, paulatinamente a criança vai "internalizando" significados e se formando como pessoa. Acontece, eu sei, que quando o nasce uma criança com síndrome de Down, a notícia dada, a tristeza vivida, muitas vezes, esse vínculo ocorre depois, demora mais tempo. Na vida da criança, há significados que são perdidos, ficam lacunas cognitivas.
Aos pais e mães novos, eu diria que deixasse aquela pessoinha que está ali ao lado, deitadinha no berço, agasalhadinha nesse dia frio, conquistar você. Olhe para ela um pequeno momento e veja a pessoa que está ali, a pessoa que está para construir-se. Ela não é a síndrome de Down, não deixe que o diagnóstico se transforme em um rótulo, que se coloca por cima da pessoa. A pessoa vem primeiro. Acalme seu coração e deixe que aquela pessoa conquiste você. Vocês serão conquistados.
Faça tudo ao seu tempo: ouça seu coração. Há algumas coisas que devem ser encaminhadas como exames do coração para ver se está tudo bem, e outras questões médicas. Vão também lhe indicar estimulação precoce, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudióloga, etc. Mas o primeiro e fundamental estímulo é o vínculo entre os pais e o filho. É esse o estímulo necessário para que a criança adentre o mundo dos significados humanos e se construa como pessoa. Não saia correndo de consultório a consultório, sem estar segura de que esse vínculo se formou. No consultório do fisioterapeuta, vão colocar seu filho sobre a bola, faz exercício, exercício, estímulo, etc, mas o profissional não vai dar à criança significado para o exercício que ela faz. Em casa, na brincadeira, você põe a criança sobre os ombros, a barriga, as costas, rola prá cá, para lá, é uma
brincadeira, tem sentido, há o sentimento, o riso, a conversa, a interlocução.
O trabalho da fisioterapeuta é importante, não estou dizendo o contrário, mas o vínculo entre mãe/pai e filho é ainda mais importante. Eu diria insubstituível.
Hoje novos pais e mães descobrem a lista cada vez mais precocemente. Em geral eu não consigo participar continuamente das discussões, mas acho que em geral esquecemos de felicitar as pessoas pelo nascimento de seus filhos. Se eles têm síndrome de Down, só nos preocupamos com a síndrome. Eles não são a síndrome, antes de tudo são pessoas. O nascimento de uma pessoa é motivo de alegria, e sempre devemos parabenizar novos pais pelo nascimento de seus filhos.

Gil PENA

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